xmlns:og='http://ogp.me/ns#' A dez quadras daqui.: julho 2014

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Palestina #8 - Aquilo que postei no Facebook II

Yanoun - Postado em 05/06/14




Ontem dois carros do exército Israelense estiveram aqui em Yanoun. Foram até o poço artesiano, os soldados andaram pela volta das árvores e quando perguntados nos disseram que "estamos fazendo aqui o mesmo que vocês, vendo esse lugar lindo. É lindo, não é?".
Acontece que aqui, quando o exército chega há sempre uma suspeita, pois raramente seus serviços são a favor dos Palestinos. Em área C, como é o caso de Yanoun sempre existe o medo de que a visita seja para deixar uma ordem de demolição para obras sem permissão ou que não se encaixem nas restritas regras de legalidade de obras aqui (deixando claro que conseguir uma permissão de obra em área C é praticamente impossível, de 2009 até 2012 de 1640 somente 37 foram aprovadas). Em área C não são construções ilegais aquelas que foram construídas antes da ocupação ilegal, em 67, depois disso, qualquer obra pode receber uma ordem de demolição que pode ser contestada, mas que normalmente só compra tempo antes da demolição, não a evita. Reformas também podem receber ordem para parar e caso continuem a casa receberá uma ordem de demolição.
A ordem de demolição comumente é deixada pendurada em uma arvore, colocada debaixo de uma pedra, ou algo similar em vez de ser entregue ao dono da construção a ser demolida. O soldado tira uma foto para comprovar que a ordem está lá, e vai embora. Em muitos casos o vento leva a ordem, os animais comem, as pessoas só encontram o papel no último dia dos 14 possíveis para recorrer. Ou não encontra e sua casa, abrigo de animais, banheiros são demolidos sem saber por que.
Pelo menos ontem, aqui, nós pudemos ficar um pouco mais tranquilos: nenhum papel, nada pendurado, nada lá. Enquanto isso ficamos aqui nesse lugar realmente "lindo, não é?" cuidando e esperando que nada aconteça.




Mak-Hul - Postado em 14/06/14



Por algum motivo uma parte do meu coração ficou em Mak-Hul. Junto com a Nami e família dela. Não posso dizer que falei muito com eles, nem que fiquei muitas horas, mas foi o suficiente pra ver o tanto de amor que essa família tem.
Ano passado, enquanto o Rafael tava aqui, a vila inteira foi demolida, logo depois as tendas e inclusive o caminhão que trazia as tendas foram confiscados. Com o que sobrou eles reconstruíram casas e abrigo pros animais e seguiram - da forma que deu - em frente. Desde o começo desse ano 74 ovelhas morreram por falta de abrigo, comida e água. A plantação de trigo não cresceu, por falta d'água - o um palmo de altura de trigo vai ser cortado para alimentar as ovelhas por algum tempo.
Esse ano não teve chuva suficiente pro trigo crescer e eles também não tem água encanada - apesar da encanação passar debaixo da vila levando água para o campo militar a mais ou menos 300 metro dali. Eles compram água a 20 NIS/m³. Em um mês são, no mínimo 900NIS (por volta de R$ 540) só de água.
Eles também não tem eletricidade, apesar de os postes que levam luz até o campo militar ficar a 15m das casas. Eles tem painéis solares doados pela universidade Al-Najah, em Nablus com apoio de organizações internacionais.
Eles não tem abrigo suficiente pro animais e nem podem contruí-los, pois estão esperando julgamento do caso pra saber se há risco de serem demolidas as estruturas de novo. O caso deveria ser julgado essa semana, mas foi adiado.
Eles estão no Vale do Jordão, onde várias vilas estão sendo demolidas, onde o governo israelense já declarou a vontade de anexação da área.
Mas o que eles tem, sumood, ninguém tira. Eles tem força. E eles tem uma família incrível, daquelas crianças que estão ali rindo, brincando e te fazendo lembrar que o mundo ainda pode ser um lugar melhor. Eles tem uns aos outros.
Eles tem a força dos Palestinos, e insh'Allah, eles vão ter os seus direitos de volta.