xmlns:og='http://ogp.me/ns#' A dez quadras daqui.: Palestina #5 Jayyus

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Palestina #5 Jayyus



Semana passada fui fazer uma visita a um outro time do EAPPI que está em Jayyus, mais a oeste, próximo a fronteira com Israel.

No dia que eu cheguei, de madrugada, o exército israelense fez uma incursão noturna na cidade: invadiram casas a procura de jovens acusados de atirar pedras em colonos israelenses. Pelas 4h da manhã 9 garotos foram vendados, tiveram as mãos amarradas com lacres plásticos e foram levados para algum lugar para serem questionados sobre as acusações. Algumas horas depois eles foram soltos. O time estava lá registrando tudo.

Cheguei no final da manhã e as coisas pareciam tranquilas naquele momento, saímos nas ruas pra descobrir quem eram os meninos e conversar com eles. Bem, quem nós encontramos não falava inglês, mas parecia bem, considerando o que ele tinha passado na madrugada.

Mais tarde fomos num encontro num centro cultural (Youth Club, na verdade) onde umas meninas de mais ou menos 16 anos se reúnem pra treinar seu inglês! Mohammed Assaf pra vocês ouvirem aí!



No dia seguinte, as 6:50h da manhã fomos até Zeita, uma vila passando Tulkarm para acompanhar um portão de agricultura. O que é um portão de agricultura (agricultural gate)? Basicamente é o seguinte: muitos colonos israelenses tomaram a terra dos palestinos para ter suas fazendas, mas logo ao lado ainda existem terras não ocupadas onde os palestinos ainda usam para agricultura. Acontece que essas terras, por questão de "segurança" foram gradeadas e a passagem é feita por somente alguns portões. Em Zeita, os portões abrem segunda, quarta e sexta das 7:00 as 7:15, das 12:00 as 12:15 e das 18:00 as 18:15. Caso alguém perca o tempo pra entrar, terá que esperar o próximo turno, caso alguém perca o tempo pra sair, irá dormir no campo. Quando nós chegamos lá, 10min antes as pessoas já estavam esperando, pra não ter chance de perder a hora.





Os portões foram abertos e as mulheres foram na frente. De três em três elas iam até o próximo portão e mostravam as permissões para trabalhar em suas terras do outro lado. Depois foram os homens. Por fim um homem com sua charrete e outro com um trator e algumas oliveiras e amendoeiras. Com o homem do trator as coisas demoraram mais e de repente vimos o homem voltando. Perguntamos se tinham negado a entrada, mas ele disse: "não posso entrar com as árvores por que elas não tem permissão". Pia, a outra EA que estava lá comigo ligou para uma hotline humanitária que costuma entrar em contato com os checkpoints caso haja algum problema, mas não havia tempo pro homem esperar: os 15 min de abertura do portão estavam passando e os soldados iam esperar por ele. Então ele deixou as árvores ao lado da estrada, antes do portão, e voltou somente com o trator, planejando tentar entrar por outro portão, outro dia, com as árvores.


Voltamos, e a tarde fomos a Tulkarm encontrar Ibrahim, que mora no campo de refugiados de Tulkarm, e andar por lá. E uau, se fosse num morro eu podia dizer que estávamos no Vidigal. Corredores apertados, o mesmo labirinto, mas sem as escadas. O campo existe desde 1948, quando oficialmente Israel se tornou independente e grande parte da terra da cidade se tornou parte de Israel, junto com pessoas de outras cidades e vilas que agora são território israelense. E depois fomos conhecer Mouna, parte de uma das duas únicas famílias cristãs da cidade.

2 comentários:

  1. O tempo passa, eu já li e vi vários relatos sobre os checkpoints e o tratameto dado por isralenses a palestinos nessas situações mas não adianta; continuo me chocando sempre com isso. Uma curiosidade minha: apesar de serem apenas duas, as famílias cristãs são muito grandes?

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  2. 4 irmãos! E a outra família se não me engano são 2 pessoas.

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