xmlns:og='http://ogp.me/ns#' A dez quadras daqui.: Palestina #2 Indo pra escola

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Palestina #2 Indo pra escola

CONCENTRE-SE. CONTE A HISTÓRIA.

Até onde eu me lembro, ir pra escola era muito legal. Todo dia era um horror pra sair da cama, mas depois de chegar na escola e estudar (ou conversar, ou ir pra educação física, qualquer coisa...) tudo passava. Acredito também que não tenha acontecido nenhum grande incidente na escola enquanto es estudei além de alguma briga de adolescente no pátio, ou alguém escorregar no ovo e quebrar a perna, rs.
Aqui na Palestina a escola também é um lugar legal pra ir, a gurizada vai de manhã com toda pilha, dando trezentos "his" pra gente, e também uns "sabah el kheer" (ou de outra forma que se transcreva bom dia em árabe) e perguntando nossos nomes e como nós estamos. Os profs são muito bons, o ambiente também... Mas peraí... tem algo errado na parte do ambiente.

Aqui nós fazemos presença protetiva em 3 escolas de vilas próximas e acompanhamento das crianças daqui de Yanoun até elas entrarem na van escolar.

PAUSA. CONCENTRE-SE PRIMEIRO EM RECEBER A MENSAGEM

  • Em Yanoun a escola tem apenas 7 alunos que moram consideravelmente perto da escola. Só que em volta de Yanoun existem 3 colônias ilegais israelenses e há algum tempo atrás os colonos desciam para assustar as crianças na ida pra escola e elas começaram a ficar com medo de pegar o ônibus. Desde então todos os dias pelas 07h da manhã alguém do nosso grupo vai até perto das casas até as crianças entrarem na van.
  • Em As-Sawia nós fazemos um acompanhamento 2 ou 3 vezes por semana, dependendo de como andam as coisas durante a entrada da escola pois comumente soldados israelenses fazem guarda em frente a escola para amedrontar as crianças. As vezes eles fazem "flying checkpoint" que são como blitz, próximos a escola e revistam crianças e professores, sem exatamente um motivo para fazer isso. Há algum tempo atrás eles invadiram a escola (bombas de som e gás lacrimogênio inclusos no pacote) e detiveram um menino o acusando de ter jogado pedra em colonos. Há pouco mais de duas semanas o exército não aparece lá. Estamos todos felizes.
  • Em 'Urif vamos a cada 2 ou três semanas, pra acompanhar, por que ultimamente as coisas estão calmas lá. A escola já foi alvo de ataques de colonos (na nossa primeira visita em 'Urif vimos um vídeo desse dia e digo que sim, é assustador. Eles gritam e jogam pedras e chamam o exército pra protege-los de qualquer reação pelo lado palestino) e do exército também. Mas há algum tempo existe uma obra de encanamento ao lado da escola, patrocinada pela US Aid, e a US Aid com medo que alguém quebrasse a as obras que beneficiam os palestinos, colocaram câmera na escola. Agora eles estão oficialmente protegidos, ou se não protegido, pelo menos qualquer agressão será registrada por uma organização internacional.
  • Por fim, existe a escola para garotos em Burin que só na última semana foi atacada pelo exército 2 vezes. Quinta feira passada após uma manifestação feita no dia anterior na vila, o exército parou uma obra de estrada e montou um flying checkpoint em frente a escola durante a entrada dos alunos. O costume é de os soldados provocarem os alunos esperando que eles respondam ou joguem pedras para eles poderem prender (sim, lembra, eles prendem crianças) ou atacar as crianças. Mas quando os professores veem os soldados eles fazem o máximo para as crianças entrarem o mais rápido possível sem conflito. Só que nem sempre fica por isso mesmo. Nessa quinta, assim que todos alunos entraram e os professores fecharam os portões, o exército jogou 2 bombas de som dentro do pátio da escola. Nessa segunda, após um dia maravilhoso na escola em As-Sawia, recebemos uma ligação do diretor da escola de Burin dizendo que o exército estava lá querendo invadir a escola...
PAUSA.

(Antes de terminar de contar a situação, só quero que por trás dos olhos, na mensagem passada esteja a sua lembrança de ir pra escola, estar lá e voltar pra casa são e salvo.)

CONTINUA.

  • ...Quando nós chegamos haviam 4 Jeeps com soldados armados até os dentes. Pouco antes de a gente chegar eles lançaram 2 bombas de som e 4 de gás lacrimogênio dentro do pátio da escola. O motivo?
PAUSA.
RESPIRAÇÃO LONGA, BOCA FECHADA, OLHAR INTERNO.


  • Na hora do intervalo as crianças viram um carro parado no terreno atrás da escola. Esse terreno foi confiscado no início do ano, logo, se alguém está lá ou são colonos ou o exército. As crianças levam isso como provocação - já não basta terem roubado nosso terreno ainda vem aqui ficar olhando por cima do muro o que fazemos. Nesse dia não era o exército, nem algum colono, era um carro da polícia israelense. Os alunos, antes de os professores perceberem, começaram a atirar pedras em direção ao carro. Done. Poucos minutos depois, pra conter uma ou duas centenas de alunos, chegaram os 4 Jeeps, com soldados armados com suas M16 e jogando bombas na escola.
PAUSA. BUSQUE EMPATIA COM O PERSONAGEM.

  • Quando chegamos o oficial estava gritando com o diretor e professores e mais alguma pessoas da comunidade. O que ele disse foi: "se alguma outra vez eu ver algum aluno jogando pedras em alguém, pode ter certeza que eu vou ter soldados entre as árvores e vou atirar bem no meio do peito dele".
PAUSA.

  • Alguns minutos depois eles foram embora.
FIM DO TEXTO. MANTENHA A AÇÃO DENTRO DO SEU CORPO, MOSTRE NO OLHAR.

INSPIRE. PRONTO.

E eu só quero saber, como uma criança vai voltar a prestar atenção em aula depois de toda essa ameaça.
Só isso.


P.S.: Na foto um Jeep do exército atrás da escola, na terra confiscada, no lugar onde havia o carro da policia. Essa foto foi tirada logo que os 4 Jeeps foram embora da escola, quando nós chegamos lá.

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