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quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Palestina 2017 #02

11/dez/2017

Adi




Adi, essa é a palavra que nós mais ouvíamos na Palestina:

"Nós não temos acesso à água, nem a eletricidade" e a gente perguntava o por que, e recebia olhares estranhos e a resposta logo vinha: "Adi".
"Como vocês se sentem com o exército israelense treinando no pátio da sua casa com um tanque de guerra?" e a resposta, novamente: "Adi".


"Adi" quer dizer normal em árabe.

Costumávamos dizer que lá tudo é extremo. E extremamente normal.

Os Palestinos vivem sob ocupação desde sempre. Pra eles é "adi". Mas o que faz a ocupação israelense diferente?
Não é ilegal um país ocupar o outro, mas no momento que isso ocorre o país ocupante tem o dever de manter o país ocupado no seu ritmo, fornecendo direitos básicos e possibilitado o país de seguir sua evolução. O país ocupante também não pode transferir sua população para dentro do país ocupado.

Em 1967, Israel, além de anexar a parte oriental de Jerusalém, começou a ocupação militar da Cisjordânia (um dos territórios palestinos, junto com Gaza). A partir de então colônias israelenses começaram a se formar dentro da Palestina. Mehola, a primeira colônia, foi legalizada pelo governo israelense por se adequar em "questões de segurança" - termo que mais se ouve quando se fala nas justificativas dadas pelo governo israelense por qualquer ação que não teria justificativa. Como Mehola, construída em território roubado de palestinos, fica no vale do Jordão, na fronteira com a Jordânia, seria um ótimo posto de observação caso os jordanianos resolvessem atacar Israel. Agora, segundo o Peace Now, existem mais de 200 colônias (legalizadas ou não pelo governo israelense) e por volta de 400.000 colonos vivendo ilegalmente na Palestina.
Os direitos básicos também são negados. Em pequenas vilas não há água encanada e a população não pode construir poços de coleta. Nas vilas e cidades maiores a água oferecida é em média 70 litros por pessoa, 30 l a menos que o indicado pela ONU. Casas em área C, não podem ser construídas ou modificadas. Nem abrigo de animais, nem banheiros, nem tendas ou barracas.

E tudo isso, acontece há tanto tempo, e com tanta frequência, que virou "adi".

P.S.: Na foto estão Abu Halaf, Burham e seu filho, moradores do Vale do Jordão, em frente a tenda em que moram desde 2013, após a vila inteira ter sido demolida pelo exército israelense.

(fica difícil escrever pouco, desculpa se parece pela metade, mas aos poucos acho que consigo escrever o que aprendi lá, e estou aberta a perguntas e encontros pra falar sobre o mudo de lá)



14/dez/2017


No Diário Popular 

Em outubro a Laura Marques fez essa entrevista linda comigo, enquanto eu estava lá na Palestina. Na época eu não pude divulgar, pois não deveria postar nada sobre o conflito enquanto estava lá.
Agora que tô de volta, ai vai a belezura!

(e valeu Augusto Barros por lembrar de mim!)


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